domingo, 9 de abril de 2017

Entre caminhos e sorrisos

Das angústias do mundo, 
Sou ansiedade ambulante.
Um mero viajante que caminha 
Entre sorrisos e desilusões, abraços e corações.

Ei, com licença, posso entrar?
Adentro, me ambiento e te faço casa.
Caso, me faço em ti. 
Despejo-me e ali fico.
Fica comigo? 
Só esta noite, não deixa de me ser abrigo.
Tá frio lá fora, me abraça, vamos ver as estrelas!
Voa comigo, o céu está lindo.
Não fique presa no mundo.
Vem, a vista aqui é incrível!

Mas ei, olha com o coração, tá?
É com ele que enxergamos as coisas mais bonitas.
Você sabia que a beleza não está naquilo vemos?
Pergunte ao Pequeno Principe, ele adora visitas.
Só cuidado com os Baobás.
Desculpa, perdi o foco. 

Vi tu sorrindo, peguei o barco e viajei em ti. 
Infelizmente, a onda levou, o barco virou, eu fraquejei.
A casa caiu.

Voltei a ser angústia, deixamos de ser amor.
Continuo vagando na eterna ansiedade de ser eu mesmo,
Esse mero viajante,
Caminhante de sorrisos.

Quem sabe, um dia eu paro de caminhar sozinho
E descubro a alegria de ser nós
Num único sorriso,
Enozados num só coração.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Cinco anos em uma carta de amor.

Cinco anos.

Para alguns, pode parecer pouco tempo. Para outros, muito.

Quer dizer, pro meu avô, cinco anos não mudaram muito. Hoje ele é um senhor de 83 anos, outrora 78. Quer dizer, agora ele já é bisavô, pela segunda vez! Mas continua sendo aquele mesmo bom velhinho, sabe? Aquele senhor que tu conhece a rotina e que vê que mantém o mesmo carinho e cuidado pelos netos e pela família.

Há Cinco anos, eu recém estava começando o terceirão e não fazia ideia do quanto esse ano mudaria a minha vida. Nem pensava em trabalhar, não fazia ideia do que era se esforçar para dar frutos. Eu mal sabia mexer no Facebook, não usava Whatsapp. Se era para conversar, mandava uma mensagem por SMS mesmo. Hoje, não trabalho sem mexer nos dois.

Cinco anos, muita coisa mudou.

Eu, há Cinco anos, queria tomar a decisão da minha vida inteira, em somente isso, Cinco anos. Mas, se for parar para pensar, eu nunca pensaria em estar morando de volta em Florianópolis, em Cinco anos.

Em cinco anos, uma criança deixa de ser uma pessoinha que é fofa dormindo, para ser uma criança falante que alegra o dia (ou não). Um adolescente, já vira um adulto formado. Tem faculdades que demoram Quatro ou Cinco anos para serem concluídas, e tem gente que termina nesse tempo.

Eu, aos cinco anos, já havia aprendido a caminhar, a falar, a dialogar. Pelo menos é o que eu acho, afinal, cinco anos, pruma criança, não é o suficiente para desenvolver uma memória super potente. Pelo menos meus pais me achavam fofo.

Mas sabe, só de pensar que já faz mais de Quinze anos que isso aconteceu, eu vejo que realmente, de Cinco em Cinco anos, a vida se faz e muita coisa muda.

De fato, muita coisa pode acontecer em Cinco anos. Em Cinco anos, meus pais namoraram, casaram e tiveram o primeiro filho. Na real, foi em bem menos do que Cinco anos, não levaram nem um ano para fazer os dois primeiros itens. E cara, depois do primeiro filho, demoraram aproximadamente Cinco anos para ter o segundo filho, esse que vos fala.

Mas, também, há Cinco anos, esses mesmos pais perderam o seu primeiro filho, o meu irmão Cinco anos mais velho.

Cinco anos, minha vida mudou. 

Em Cinco anos, eu reaprendi o que era dar meus primeiros passos sozinho, a não depender mais da mão do meu irmão para andar, a falar por mim mesmo, a viver por mim mesmo. Isso tudo, com dezessete anos de idade, e não com somente Cinco anos.

Em Cinco anos, eu senti saudades, eu senti vontade, eu senti o gosto agridoce do passado. 

Em Cinco anos, eu cresci por mim, eu vivi o futuro, eu cheguei a lugares que nunca imaginaria e cara, há Cinco anos, meu irmão fazia o mesmo. 

É engraçado pensar, o quanto eu admirava o meu irmão pela postura que ele tinha na família, pelo estágio que ele fazia e pela carga que ele aguentava. Mas sabe por que é engraçado pensar isso? Porque hoje, eu, que não era nada naquela época, me vejo ocupando as mesmas responsabilidades, talvez não com tanta maestria, mas sei que posso me sentir orgulhoso disso, pois ele foi um grande exemplo pra mim enquanto vivo e me guia muito depois de morto.

Em Cinco anos, eu aprendi a agradecer a Deus, por simplesmente, não ter me dado somente Cinco anos, mas Vinte e Um da pessoa mais maravilhosa que poderia ter passado na minha vida. E olha, em Cinco anos, ele me ensinou muito mais do que quando eu tinha Cinco, Dez ou Quinze anos. Uma vida como a dele, deixou uma marca tão grande em mim que eu sei, de certeza, que daqui Cinco anos, eu terei aprendido muito mais. E assim, vou vivendo.

Em Cinco anos, aprendi a escrever sem chorar, mas sorrir ao lembrar de ti.

Thu, obrigado pelos Cinco anos de carreira como anjo protetor, como ótimo professor que sempre foste e como saudade amorosa que és. E sabe, acho que agora, não vou mais escrever de ano em ano, mas de saudade em saudade, de momento em momento, ou, talvez, de Cinco em Cinco anos.

Um sorriso, um grande beijo e um abraço maior ainda, do seu irmãozinho de sempre,
Pepê.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Por um instante

Dia corrido, noite chuvosa, pensamentos nebulosos.
Finda o dia e deito-me na cama.
Nada me sai da cabeça.
Agonias e incomodações agora são parte de mim.
Sem solução, procuro a janela, 
alcanço a varanda e vejo o mundo lá fora.
Por um instante, parei, refleti.


Um mosquito vem ao meu encontro, 
tentar perturbar meus pensamentos já atordoados, 
mas sem sucesso, torna a voar pra longe.
Devo estar aqui há uns 5 minutos, parado, pensando.
Observo a chuva cair e, pouco a pouco, 
o tormento dá lugar aos sorrisos.
Por um instante, parei, esqueci.


Deito-me no chão da varanda, 
olho pro céu e simplesmente começo a sentir.
Por um instante, paro tudo em minha mente, 
deixo que o som do vento seja o meu único pensamento.
Sinto a chuva tocar meus pés esticados no peitoril.
Transporto-me prum mundo só meu.
Por um instante, parei, senti.


O vento volta a soprar em meus ouvidos,
a chuva a tocar os meus pés,
 o mosquito a zombar de minha cara.
Tudo voltou ao normal.
De volta pra dentro, vida que segue.
Pensamentos a mil, sem sono de novo.
Pelo menos, por um instante, parei, vivi.

domingo, 6 de novembro de 2016

Procura-se amor!

Vagando pela rotina da existência,
placas apontam a direção para onde o coração deve ir.

Teimoso, ele procura se desviar sempre que uma direção surge.

Não gosta de ser domado, mandado, desafiado.

Se mete no meio da floresta, 
sem lanterna, sem facão, sem repelente, 
a mercê do destino que escolher.

Dono de seu próprio passo,
passa o tempo, passa o dia.

Em determinado ponto, a escuridão se apossa
e todas as direções somem.

Sem chão, o coração indomável se vê frágil.

Corre de um lado pro outro, 
mas não sai do lugar.

Se arrisca um pouco mais, 
até que chega ao topo, 
só para se ver cair pouco a pouco.

Deita-se no chão sem conseguir se levantar mais.

A escuridão não é mais culpa da noite,
mas das próprias escolhas.

O coração aproveita esse tempo para repousar.

A única luz que ele vê é a das estrelas, 
e parece ser o suficiente para iluminar os pensamentos,
rever o passado
e pensar no futuro.

Quando menos se espera, 
as estrelas abrem espaço,
a felicidade volta numa paixão arrebatadora,
aparece o Sol nascente.

O coração se reergue e não há mais outra direção.

Cego aos males sofridos,
se entrega a somente uma possibilidade:
estar perto e deixar que ele tome conta.

Encontrou, por fim, um novo lugar para habitar
e, assim, deixar-se ser quem sempre fora.

A procura acabou,
olhou para dentro de si
e viu que, na verdade, ele sempre foi o amor.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Uma só e somente uma

Assim como a águia, que sai a voar solitária a buscar um novo rumo,
também se encontram meus pensamentos. 

Num céu de mesmices e emoções, 
meu coração se faz nuvem solitária num dia de Sol. 

O céu azul traz a alegria a tantos, 
mas a ela só permite observar de longe.

Sozinha, essa nuvem não é capaz de fazer muita coisa, 
nem mesmo refrescar uma criança com os poucos pingos que ainda há nela. 

Na imensidão do Céu, essa nuvem é somente mais uma. 
No meio duma tempestade, não será ela que fará falta. 

Porém, se ficar com os pensamentos nas nuvens significa sonhar, 
a esta nuvem não seria tirada a possibilidade.

Ela sonha tocar ao chão, sentir o amor por si só. 

Mas ela não sonha com qualquer chão,
ela quer cair na terra, perto da mais linda das flores,
aquela que irá se alimentar de sua água e dar frutos.

Assim, a flor e a nuvem não serão mais únicas, 
mas unir-se-ão para poderem crescer juntas
e mostrar ao mundo a sua beleza. 

Florescerão e serão felizes sendo uma só e somente uma.

sábado, 7 de maio de 2016

O amor principal.

Normalmente, uso do meu blog para escrever sobre o amor no seu viés de casal. Hoje, vai ser diferente. Em comemoração ao dia das mães, venho escrever para uma pessoa muito especial, a minha avó! Não, brincando, só para deixar a dona Simone irritada mesmo. Venho escrever sobre a minha mãe! Afinal, se não fosse por ela, eu não seria capaz de pensar, agir e nem de amar. Fica meu pequeno texto aqui e um feliz dia das mães para todas as mulheres que são felizes por sustentar esse título!



O tempo passou, né mãe? O Thu e eu crescemos, adolescemos, adultecemos. Te passamos em altura há um bom tempo. Fomos nos tornando mais maduros aos poucos, num longo processo chamado vida. Vida esta que tu nos deu, depois de passar nove meses sendo tão bem cuidados (não tenho memórias, mas acredito que sim). Não sei quanto ao Thu, mas sei que desde pequeno eu já te dei trabalho né? Não bastava ter nascido ainda tinha que quase morrer por conta da carne de porco. Cheguei pra causar e tornar a tua vida uma eterna preocupação e um eterno carinho. Mais uma vez, falando de coisas que eu não lembro, quase morri outras vezes, seja fugindo ou puxando o fio do ferro de passar até ser salvo por um herói que não usava capa, pelo menos não naquele dia. Mesmo assim, sempre fui cuidado pouco a pouco, cagada por cagada. Fugindo ou não do berço, sempre havia aquela preocupação com o pequeno.

Enfim, passei a ter memória, mesmo que ela seja péssima. Nada disso mudou muito. Tá, os atentados a vida passaram a ser bem menos constantes, comecei a perceber que não seria legal não. Ainda assim, sei que problemas causei, causo, causarei. Claro que agora tu já deves estar ou perto de chorar ou lembrando daquela história que tu tanto amas do quanto eu era apegado a ti quando criança e que eu fiquei três dias sem me alimentar direito e com problema na garganta só porque tu estavas viajando para São Paulo. Pois é, os tempos mudaram, eu mudei, tu mudou. Aprendi, passo a passo, a tomar meu voo solo. Em quedas e empurrões, alcancei força o suficiente para voar por mim mesmo. E não, não vou citar a música do Zezé de Camargo e Luciano, "No dia em que eu saí de casa", por mais que se aplique um pouco a nós. Ou talvez muito. Ou completamente. Enfim!

Fui crescendo e nesses 21 anos de vida muita coisa aconteceu. Tivemos nossos momentos bons, ruins, de afastamento, de aprochego. Tive, sim, meus momentos de revolta por conta da mudança e não nego. Sei que fui um péssimo filho naquele momento, mas tu mesma sabes que hoje sou uma pessoa diferente e que nunca voltaria a ser daquele jeito, eu mesmo não me permitiria. Aos poucos, o CLJ foi nos ajudando a nos aproximar e acertar as coisas. Não que eu te odiasse antes como tu pensava, mas não tínhamos aquela facilidade de conversar. Fomos nos abrindo e nos reconhecendo.

Então, chegou um dos momentos que sempre torna esse dia mais difícil: a morte do Thu. Momento esse que sempre me faz lembrar da nossa conversa no ônibus de madrugada enquanto voltávamos de Floripa contra a tua vontade, visto que tu querias que eu faltasse os dois primeiros dias de aula para que a gente ficasse mais quatro dias em Florianópolis. Conversávamos de uma tristeza que seria um tanto quanto banal perto daquela que nos esperava. Bom, não foi fácil, nós sabemos. O Thu era uma parte muito importante da nossa família e faz muita falta, com certeza. Sei que posso falar em nome dele aqui porque mesmo a gente não se conversando muito, ele era meu irmão e eu conheço ele e sei do amor que ele tinha por ti. Mãe, nós sempre vamos cuidar de ti e estar perto de ti. Tanto eu, quanto ele, nunca iremos te deixar desamparada e sozinha. Não estamos presentes nesse momento, mas somos memórias agora. Memória viva e presente para sempre em teu coração. Quer ver?

Lembra daquele abraço que tu me deu quando eu estava entrando no carro para vir para Florianópolis? Abraço quente e triste, mas tão bom. Uma separação houve, mas nunca dois corações estiveram tão unidos quanto naquele momento.

Lembra de quando o Thu foi contigo para São Paulo e depois foi para os EUA? Com certeza foi um momento que muito alegrou ele. Eu lembro bem daquela cena de vocês dois indo para o embarque enquanto eu dava um abraço curto no Thu porque eu não queria chorar, não queria deixar ele com vergonha. Lembro do Eu te amo que eu não disse pra ele e de eu chorando no carro enquanto comia um McChicken. Mas tu nunca guardou o teu amor, sempre disse para ele que o amava, não tinha medo que nem eu tive. Para ti, demonstrar amor nunca foi vergonha.

Lembra de quando eu te chamava de docinho de coco porque mesmo eu não gostando de coco eu sabia que tu adorava ser chamada assim?

Lembra de quando o Thu recém tinha tirado a carteira e vocês não deixavam o coitado dirigir em paz? Algo que se repetiu um pouco comigo, mas que já foi menos do que com ele. O carinho de vocês se demonstrava através de nervosismo que depois se tornou confiança.

Lembra daquele dia que eu voltei do retiro do CLJ I e conversamos na minha cama? Momento de reconciliação e choro, momento de alegria, momento de voltar ao teu abraço.

Lembra quando o Thu chegou em casa sendo levado pelo Quaresma porque tinha bebido demais e tu ficou cuidando dele a noite toda? Eu lembro bem disso e lembro da cara que ele tava no almoço do outro dia.

Lembra dos almoços de final de semana? Nós quatro reunidos a mesa. Mesmo que maioria das vezes eu e o Thu estivéssemos com cara e voz de mortos, eram bons esses momentos.

Lembra de quando eu bati o nariz na árvore no dia do casamento do tio Marcelo e mesmo me dando uma bronca tu riu comigo de eu estar indo maquiado pro casamento?

Lembra das conversas e Cocas que tu compartilhou com o Thu? Disso eu nem preciso perguntar, sei que tu lembra e guarda com um imenso carinho no teu coração.

Lembra disso?


Sei que não é muito, mas é um pouco dele. É uma prova de um "Te amo" escrito por ele. Uma memória que o facebook nos permite ter.

É, mãe, somos e seremos memórias muito bem vividas e conservadas no teu coração. Coração gigante que guarda todos os problemas do mundo, mas que ainda assim possui muitas alegrias. Afinal, quer alegria maior do que ser minha mãe? Pô, eu ia adorar ter um filho como eu, olha que cara incrível! :)   (momento em que tu vais olhar pro pai e falar "é um abobado, né?")

Brincadeiras a parte, tu sabes do carinho, da admiração e do amor que eu tenho por ti. Tu sabes que o Thu também tinha isso, talvez maior ainda do que eu, e que não se acabou. Ele com certeza já está lá no Céu, esperando pelo dia em que vai te dar um abraço de "oi". Mas ei, sinto muito, mano, vais ter que esperar algumas décadas! Ainda preciso dela aqui por um bom tempo, ela só viveu meio século!

Mãe, sei que maioria dos filhos normais prefere escrever textos cheios dos maiores clichês que toda mãe é, mas tu sabes que eu não sou normal e que meu texto também não pode ser né? Só para tu não ficar triste, saiba que sim, tu és merecedora de todos os clichês, desde aqueles "feliz dia do 'leva um casaco, meu filho'", até o "mãe deveria ser imortal".

Sei que eu não estou presente agora e que esse vai ser o
primeiro dia das mães longe de ti que eu me lembre. Sei que texto algum pode tirar o vazio que a minha ausência faz. Sei que não guardamos nenhuma mágoa de brigas e espero que tu não guarde mágoa por este dia. Sei que sinto sim a tua falta e que tu é muito importante para mim, como tu sempre foi. Sei que não contive as lágrimas e passei os últimos 15 parágrafos chorando e querendo estar aí.

Feliz dia das mães, mãe! Obrigado pro existir e ser uma mãe maravilhosa! Teu abraço é um dos melhores que eu conheço e quero sempre contar com ele para me recepcionar em Porto Alegre, mesmo tu com uma voz de sono!

Ah! E antes que eu esqueça, tenho que te contar um segredinho: Já teve vezes que eu fiz o cartão de dia das mães e o Thu só assinou, viu? Acho que esse ano vai ser assim também, eu faço o texto e ele assina com os votos de felicidade que ele sempre desejou e sempre desejará para ti!

Mãe, fica bem aí, toma uns 20 litros de água para reidratar que eu acho que tu vais precisar!

Um grande beijo de filhos que te amam muito,
Pepê e Thu.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Uma visita inesperada

Estava sentado na cama, como habitual. Tu, meu irmão, chegou do nada e sentou do meu lado. Eu não parava de olhar pela janela, o céu lá fora estava lindo. Te mostrei o que via e de início tu nem deu bola. Um céu nublado pareceu tão sem graça né? O que não perdeu a graça foi aquela nuvem que entrou pela janela, nuvem esta que somente tu conhecias do que era feita. Experiência própria, talvez? Nos tirou um riso ou outro.

Em questão de segundos, o céu que antes era claro começou a se escurecer e o Sol a se por. Tão de repente aconteceu, tanto quanto esse tempo ao teu lado. Após vermos o céu de Sol poente, o tempo fechou. Como se meus sentimentos fossem mostrados através do clima, a confusão tomou o céu. Furacões, redemoinhos, tempestade forte. Tudo de uma vez só.

Tu, como quem não quer nada, foi pra varanda. A chuva e a tempestade pareciam uma leve brisa para ti. Passaste por tanta coisa, né? Não era água nem frio que iriam te afetar. Depois de um tempo, olho pra fora e te vejo vestido de batman com uma cara séria. Tomo um susto e tu abres um sorriso, aquele mesmo sorriso que me dá saudades de tempos antigos. Rimos juntos, como duas crianças, risos puros e de alegria verdadeira.

Fiquei com sede e fui pegar uma água, tua visita era breve e eu sabia que a sede não iria se saciar nesse pequeno tempo. Talvez uma bebida te ajudasse a ficar um pouco mais. Com o computador debaixo do braço, fui para a cozinha e encontrei pessoas que não convém comentar, algumas que eu nem sei quem eram.

Ao voltar pro quarto um pouco depois, te vejo com uma vassoura e uma cara de culpado. Varrias embaixo da minha gaveta. Comecei a rir e perguntar o que tinhas quebrado. Não queria que a culpa te consumisse, nada que tu quebrasse poderia me deixar brabo contigo. Tu me disse que lembrava que eu tinha reclamado da gaveta quebrada e comprou uma nova, queria fazer uma surpresa, mas que ela acabou caindo.

Bem idiota, olhei pro chão e vi um computador. Logo, indaguei: "tu quebrou meu computador??". Antes mesmo de tu responder, me toquei que tinha levado ele para a cozinha. Tu olhou para a prateleira e eu vi as coisas que normalmente ficavam embaixo da gaveta. O tigre de pelúcia estava normal, teu boné também, nada parecia estar quebrado. Fui olhando pro lado até que vi algo com um pano por cima. "Dramático, né Thu?".

Levantei o pano e encontrei aquele R2-D2 que tu tinhas comprado na tua viagem. Estava em pedaços, peças soltas. Soltei elas na cama e a visão começou a turvar. Pouco a pouco as lágrimas começaram a vir. Num fechar de olhos, senti o teu abraço. Não paravas de pedir desculpas por isso, mesmo que eu falasse que não tinha problema algum.

Tive que pedir que te afastasses do abraço, mas não foi por mal. O peso do teu corpo estava me machucando como agulhas numa cama de faquir. Sentia o peso daquele abraço, algo tão bom, mas que se tornara em algo doloroso. As lágrimas caíram, o peso saiu, o sonho acabou. Acordei, Thu; abri os olhos e tu não estavas do meu lado. Agradeço pela visita. Acho que a água acabou não te segurando muito né? Na próxima, eu trago umas cervejas e a gente conversa mais, mesmo que eu não vá beber contigo. Enquanto isso, fico no aguardo. Obrigado, mesmo! :)