segunda-feira, 6 de abril de 2020

À deriva.


Nos jogamos no mar aberto, a descobrir novos caminhos.
Não porque quisemos, mas porque precisamos.
Tentamos nos manter fortes, fazendo o que podíamos.
Fomos navegando e indo de um canto ao outro, para onde dava para ir.
Sem muita noção, seguimos um rumo qualquer.


Então, vieram as primeiras tempestades, vieram furacões e até ondas enormes,
Mas nada foi capaz de derrubar nossos navios.
Entramos em redemoinhos, fomos atacados por monstros marinhos,
Sobrevivemos a todo custo, matamos tudo que vinha de fora.
Não foi o suficiente.


A pressão chegou, como um soco na boca do estômago.
Trouxe algo ruim, engatilhando coisas muito fortes, os pontos fracos do navio.
Muitos quiseram se jogar do barco, cansados de navegar.
Afinal, nem todo mundo nasceu para o mar.
Mais do que as ondas gigantes que antes nos atacaram, isso balançou a todos.


Perdemos o chão, o equilíbrio e entramos nesse abismo.
Chegou o sono profundo.


A luz surgiu como um novo dia, tudo amenizou um pouco.
Fizemos o que podíamos, mas o abismo ainda estava aqui.
Numa pequena turbulência, perdemos totalmente o rumo.
Falta de comunicação, um içou a vela enquanto outro ancorava.
Uns fingiram nem ver as nuvens, enquanto outros queriam ser bússola.
Fomos para caminhos errados e isso nos matou.


Voltamos atrás, retomamos ao eixo e pensamos numa nova rota.
Porém, as nuvens já estavam tão densas que não houve espaço para a luz agir.
A tempestade rugiu e não deve sair tão cedo.
Mas quando se for, não se vai só, pode levar muitos navios junto.
E muitos ficarão aqui, sem conseguir ser luz, sem conseguir sair do abismo,
Na ausência que alguém fará, quando essa chuva acabar.


Se cuidem, amigos, fiquem em casa, naveguem para fora somente se necessário.
Atenciosamente, 
Pedro Meyer.