segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Amor de irmão - uma vida como exemplo de cuidado e carinho.

Há 3 anos atrás, perto dessa hora, parentes e amigos da família se encontravam na sala do apartamento, chocados com a notícia e com uma ponta de fria esperança de que fosse outra pessoa e tivessem confundido o corpo. Sim, dia 23 de Fevereiro de 2012 foi o dia em que recebemos a notícia do acidente.

Demorou cerca de uma semana, dez dias, até que pudéssemos dar um fim digno à notícia. Com amigos de Porto Alegre, de tempos antigos e atuais; e com familiares de Florianópolis (a qual incluo as "tias emprestadas", amigas de anos da mãe) fizemos o enterro. Numa vigília que demorou a começar, vimos a prova de amizade quando os amigos do meu irmão, mesmo tendo que trabalhar no outro dia, só saíram do cemitério depois de verem ele. O corpo chegou pelas 5h da madrugada.

Se me pedirem para falar quem esteve ou quem deixou de estar lá, eu não vou conseguir citar um nome que seja. Primeiro, porque eu sei que foi quem pôde e quem não podia, mas deu um jeito. Segundo, porque isso não é algo que se deva ser cobrado. Terceiro, porque não vem ao caso. O que eu posso dizer, sim, é que vi muitas pessoas por lá e que pude ver a grande importância dos 21 anos de vida dele (completaria 22 um mês depois).

Voltei para o colégio uma semana depois. O primeiro dia de aula, por acaso, foi o último dia de vida dele. Muito atenciosos, diversos professores e colegas vieram me dar apoio. A vida seguiu. CLJ voltou, continuei como monitor de pré.

Três anos se passaram, muita coisa aconteceu.

Os amigos dele se formaram na faculdade. Nos convidaram e nos emocionaram. Homenagearam ele e não deu para conter as lágrimas. Fomos prestigiar um futuro que não foi proporcionado a ele.

Meses depois, outra formatura chegou: a minha do terceiro ano do Ensino Médio. Não tão grande quanto de uma formatura de faculdade, mas serviu para se concretizar um dos sonhos do meu irmão: ver a família junto prestigiando um neto/sobrinho/filho/primo.

Vestibulares passaram e a decisão que tomamos juntos quanto ao meu futuro permaneceu. Comecei na arquitetura, mas não na mesma universidade que ele cursava Ciências atuariais. Entrei na universidade que talvez ele entrasse após a formatura, afinal, queria cursar engenharia civil, seguir seu verdadeiro sonho. Ele me ensinou, mesmo sem concretizar, o valor de um sonho.

Comecei a faculdade, comecei as mudanças na minha vida. Fui em festas e cheguei a beber um pouco do que ele tanto aproveitava. Não tive a presença dele para me "ensinar" a beber, mas nunca fiz questão de aprender. Talvez eu tenha sido meio infantil ao pedir para certas pessoas me explicarem sobre bebidas, mas eu era ingênuo ainda. Não adquiri o gosto dele para festejar e beber.

Em paralelo, ia ganhando mais atribuições no CLJ. Participei da coordenação por dois anos e aprendi muita coisa, tive que superar muita coisa e tive que aguentar muita coisa. Mas, acredito, ele não entenderia disso. Sua fé sempre foi muito misteriosa.

A faculdade seguiu seu rumo e chegou o fim do terceiro semestre. Rodei numa cadeira e não me senti nada mais nada menos do que um lixo. Tive vergonha de olhar para as pessoas até, por mais que me dissessem que era algo normal. Sabia do afinco dele pelo estudo, mesmo que tivesse sofrido o mesmo perto do final.

Atualmente, estou em busca de um estágio. Quinto semestre da faculdade. A experiência que ele tinha e a dedicação pelo trabalho que gerou tantos frutos bons poderiam, com certeza, me ser úteis hoje em dia.

Mas, afinal, por que conto um pouco da minha história junto com a dele nessas linhas? Bom, a resposta é bem simples: a história minha e dele sempre esteve muito ligada. Desde pequenos fomos muito ligados e o amor que sentíamos e sentimos um pelo outro não é algo que se pode medir e, principalmente, que pode ser apagado pela morte. No momento, eu sei que não posso amá-lo e demonstrar o amor pessoalmente, porém, a minha fé me diz que num futuro iremos celebrar juntos em plenitude. Ele me ensinou muito em vida e olha, podem ter se passado três anos, mas ele continua a me ensinar. A vida dele foi o maior testemunho que eu poderia querer para a minha vida. Ele não era perfeito, mas isso que fazia dele humano. Tampouco era santo, saberia citar diversas histórias de coisas ruins que eu sei, seja por ter ouvido, ou por ter presenciado. Mas o necessário ele me ensinou.

Hoje, não vivo em memória dele. Tampouco vivo querendo ser ele. Nem ele iria querer isso. Ele sempre me encorajou a ser autêntico e seguir os meus passos, a fazer o que fosse me fazer feliz e não o que os outros quisessem de mim. Hoje, eu vivo pra mim. Para crescer como pessoa, para ser um bom profissional, para ser eu mesmo. Sempre olhando para trás e lembrando do bom exemplo dele e dos bons 16 anos e 360 dias de vida ao lado dele, mas com um olho no futuro, pensando, sim, que a vida segue e o amor permanece. Se hoje tenho uma foto de nós dois quando crianças tanto na carteira quando na cômoda, é para nunca me esquecer que eu tenho alguém que me protegeu, que me protege e que sempre me protegerá. Esse mês, sonhei muito com ele e sabe o que foi mais divertido? Muitos dos sonhos não tinham sentido algum e nem passavam alguma mensagem, mas era só eu e ele brincando, jogando, ou fazendo algo que gostávamos.

Thu, eu te amo e isso nunca vai mudar! Enquanto eu não posso te ver descendo do beliche para me expulsar do computador, te vejo nos meus sonhos com uma grande alegria! Sei que já disse isso várias vezes nesses três anos, mas tenho que dizer de novo: Obrigado pela tua existência, meu querido irmão!

Um grande abraço do teu querido irmão caçula,
Pepê.

2 comentários:

  1. Muito lindo e emocionante as tuas palavras, consegui sentir esse amor e esse carinho imenso que tu sente pelo Arthur. Convivendo com a tua mãe eu aprendi muitas coisas, e só tenho que agradecer poder ter conhecido vocês é um pouco dessa triste, porém linda história do teu irmão. Que aonde estiver com certeza está cuidando e zelando por vocês. Admiro muito a tua família.... a tua mãe, que é uma mãe que a vida me deu...! Parabéns por ser esse rapaz com esse coração tão lindo!

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  2. Linda homenagem! Tenho certeza que vocês dois são o orgulho dos pais. Abraços

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